
Temos uma tendência a acreditar que travamos lutas apenas quando diante de desastres, perdas ou situações ruins. Infelizmente isso é um grande engano. Nosso psiquismo é pulsante o tempo inteirinho, seu funcionamento não tem parada nem quando dormimos, a prova disto são os sonhos. Desta forma, os elementos que estão presentes nessa mente psíquica é que define como cada um vai lidar com situações adversas, independente de serem positivas ou negativas.
Na última década foi dado um nome a este processo “inteligência emocional”. Particularmente não me agrada este termo, pois parece que quem lida de forma menos saudável com uma circunstância, o faz por ser “burro”. E não é nada disto.
Entendo o psiquismo como um amontoado de recursos que foram ou não bem desenvolvidos ao longo de toda a vida, o que depende do ambiente em que cresceu, das pessoas que o acompanharam neste processo, dos temperamentos inatos, das diversas (e tão únicas) experiências vividas e do momento de vida atual. Isso tudo misturado não resulta em inteligência e sim em um indivíduo único que enfrenta a vida com as capacidades emocionais que estão disponíveis em sua mente.
Uma boa analogia é o corpo humano, cada um tem uma força muscular e capacidade respiratória muito singular e nos dois casos, corpo e psiquismo, há possibilidades de desenvolver mais habilidades. Para o corpo há atividades físicas, para a mente há análise, cada um deve ser usado conforme a necessidade.
Sendo assim, situações boas podem ser vivenciadas de forma negativa por alguém, enquanto situações de grande dor podem ser enfrentadas com tranquilidade por outra pessoa.
Por situações boas me refiro a vivencias agradáveis que podem ir desde de elogios até conquistas como emprego novo, crescimento financeiro, uma viagem, a compra de um carro, um casamento e por ai vai…
Para lidar com o bom se faz necessário uma compreensão interna de que aquilo é merecido, é verdadeiro, é um direito. E muitos são os indivíduos que não acreditam em si mesmos, que não se enxergam de forma realista. Mas ao contrário, tem uma visão de si mesmos enviesadas, onde entendem que o que podem ter é o ruim, o pouco, o menos. Então duvidam do que conquistaram, não percebem como fruto do que plantaram, e se punem após receber este bom.
A punição é o castigo por ter o bom. Pode ser vivenciada de muitas maneiras, no caçar briga quando esta tudo bem, no medo da inveja alheia quando na verdade há uma auto inveja (que é o não se permitir ter o bom), no cometer erros em situações bastante conhecidas, no não aceitar um elogio, exemplo básico:
“- Que linda sua blusa.
– Obrigada, mas é tão velha (ou paguei tão barato; ou peguei emprestada…)”
Estes e tantos outros comportamentos são frutos de uma visão perneta de si mesmo, na qual os aspectos ruins (defeitos, inadequações, erros do passado) ficam em primeiro e grande plano, impedindo a visão das qualidades, dos acertos e tantas outras capacidades desenvolvidas ao longo da vida. Quando isto acontece o bom não pode ser desfrutado, ele fica como imerecido, por isso é visto com desconfiança e negado.
Afinal, o vitorioso é visto com admiração, mas na mesma proporção é invejado e por isso muito criticado. E não é só dos outros que temos inveja, também o temos de nós mesmos.
P.S.: por inveja não estou me referindo a quem faz mal aos outros, isso não é ser invejoso é ser maldoso. Ter inveja, psicanaliticamente falando, é acreditar que o bom só esta no outro, que não se tem a capacidade de conquistar também. Assim, auto inveja é o não reconhecer a conquista como sua, ela fica fora e por isso não pode ser desfrutada.