O governador Beto Richa reconheceu, em entrevista publicada ontem na Gazeta do Povo, ter errado na condução do “pacotaço”, que pretendeu ter aprovado em regime de toque de caixa pela Assembleia e que, por causa da mobilização de professores e servidores públicos, resultou no “derrotaço”.
É raro testemunhar um governante admitir o erro. Parabéns, Beto. Mas, como dizem os italianos, tra il dire e il fare c’è uma distanza di mare: entre o dizer e o fazer há uma distância oceânica.
Na mesma entrevista, o governador comete dois erros crassos: anuncia que congelará o aumento do seu salário e dos secretários e que reenviará à Assembleia a proposta de alteração do Paraná Previdência. A proposta, entre outras medidas, prevê a fusão do fundo previdenciário com o fundo financeiro e permite a livre utilização do que resultar disso.
Beto errou em relação ao aumento salarial porque não basta congelá-lo: tem de ser revogado para servir de exemplo da austeridade que impôs ao governo e contraponto à tentativa de retirada de direitos do funcionalismo, barrada pelo “derrotaço”.
A fusão e liberdade de uso do fundo previdenciário são a espinha dorsal do levante do funcionalismo, que o governo tentou desarticular após três rodadas de negociação com seus líderes. Evocar seu reenvio à Assembleia aumentou a desconfiança dos servidores em relação às boas intenções manifestadas pelo governo. E dá pretexto para que a greve dos professores continue.
A APP Sindicato, que é movida não apenas por interesses da categoria dos professores, mas, ou principalmente, por sua motivação político-ideológica – é o braço sindical mais poderoso do PT no Paraná –, encontrou nisso uma bandeira valiosa para continuar solapando a já combalida popularidade do governador.
Não se pode, contudo, promover uma greve por antecipação. O projeto tem de voltar à Assembleia, seu teor ser examinado e, se representar uma ameaça ao funcionalismo, este tem o direito de se mobilizar. O primeiro passo é fazer marcação cerrada com os deputados, desde que por vias democráticas.
Se decidir pela continuidade da greve antes mesmo de conhecer o que pretende o governador, o professorado extrapolará os limites de sua justa indignação para se curvar aos objetivos políticos de um partido. Partido que tenta de tudo para desviar a atenção do desastre administrativo, a corrupção, a manipulação inescrupulosa de corações e mentes e a truculência que promove em nível nacional.
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