Quem nasceu no sítio sabe o quanto é verdadeiro o ditado que diz que “a gente sai da roça, mas a roça jamais sai da gente”. Mas, nem todos vivem de saudosismo. Há quem deixou o meio rural há muitos anos, goza de todo o conforto proporcionado por uma cidade de alto padrão, como Maringá, e ainda se dá ao luxo de estar na roça, bastando, para isto, cruzar a rua. Melhor ainda quando se pode ter o com asfalto, iluminação pública, linha de ônibus e até rede de esgoto sanitário, sem precisar desembolsar um tostão sequer em impostos.

Luiz Roberto cuida da roça iniciada pelo pai dele quando chegaram os primeiros moradores do Parque Itaipu
Este é o caso de várias famílias da Rua Gertrude Heck Fritzen, paralela ao Contorno Sul, no Parque Itaipu, “proprietárias” de pequenos sítios onde plantam café, milho, feijão, laranja, mamão e frutas diversas. Na realidade elas estão ocupando uma faixa de terra entre o Contorno e o bairro, onde passa uma linha de alta tensão da Eletrosul Centrais Elétricas, empresa do governo federal que distribui energia elétrica para as concessionárias estaduais, como a Copel, no Paraná, Celesc, em Santa Catarina, e a Cesp, em São Paulo.
Os pequenos sítios começaram a surgir nas décadas de 1970 e 1980, quando foram loteados bairros próximos à saída para Campo Mourão. Na época, a região era rural e os loteamentos faziam divisa com áreas de fazendas em direção à Gleba Pinguim.
O Contorno Sul ainda não existia, mas linhão da Eletrosul já estava lá e, por lei, debaixo dele não pode ser feito qualquer tipo de construção. Com isto, a faixa de terra onde estão as torres era ocupada por matagal e acabava servindo para o descarte de restos de construção, sofás e móveis velhos, galhadas e outros tipos de lixo, provocando o surgimento de ratos, baratas, forte mau-cheiro e péssimo visual.
“Como quase todo mundo que morava perto do linhão tinha vindo do sítio, logo as pessoas começaram a limpar pequenos espaços para plantar alguma coisa”, conta o mecânico João de Lima. “As pessoas trabalhavam durante o dia em seus empregos e nos finais de tarde e nos fins de semana davam de mão a enxadas e facão e vinham plantar. A intenção não era ter lucro. No fundo, queríamos mesmo era matar a saudade dos tempos do sítio”.
Enquanto conversava com a reportagem, João mostrava cerca de 20 graviolas que acabava de colher no pé que ele plantou entre pés de café e bananeiras. O suco de umas duas semanas está garantido e ele ainda fez a média com vários amigos que apreciam a famosa fruta.
João Leandro da Silva não tem motivos para ter saudade do sítio. Ele trabalha em um curtume e, quando chega em casa, troca de roupa e vai trabalhar em sua pequena chácara em frente a casa. Ele se gaba aos amigos que aquele pedaço de terra serve para descontrair.
“Além de eliminarmos o estresse, ainda podemos levar para nossa família e distribuir aos amigos alimentos fresquinhos, cultivados sem qualquer produto químico”, diz “o sitiante” Luiz Roberto Vitorino, que “herdou” a terra do pai, o pioneiro Anselmo Vitorino.
Segundo ele, Anselmo era um autêntico agricultor, que teve que mudar-se para a cidade após as geadas históricas de 1975 dizimarem a cafeicultura paranaense. Às vésperas de completar 70 anos, Luiz Roberto, que na cidade estudou, foi auxiliar, sub-gerente e gerente de empresas, se aposentou e assumiu o “sítio” iniciado pelo pai. Em uma área de 1 mil metros quadrados ele planta café, cana, banana, laranja e outras plantas e todos os finais de tarde, quando o sol já não está tão ardente, ele volta a ser o roceiro dos tempos de criança.
“Para nós, é bom. É uma ocupação e uma forma de termos alimentos sem agrotóxicos. Mas, para a Eletrosul é uma garantia de que enquanto tivermos nossas plantações aqui não surgirão favelas, invasões, ninguém vai descartar lixo. Enfim, ela deixa até de gastar com a limpeza do terreno”, diz Vitorino.